25 novembro 2011

Amigas e Amigos da E. M. Antonio Ribeiro Barroso


Praticamente tudo que eu disse sobre as histórias escritas pelos alunos da escola Guido Marlière, vale também para estas, que acabei de ler. Fiquei, mais uma vez, impressionado com a surpreendente variedade de motes e estruturas narrativas, que podem ser vistos e saboreados através destes contos. Se juntarmos todos os contos das duas fases, teremos quase que um modelo para cada história criada. Isso é muito bom!
Em “A Lenda do Queroz”, acredito que o personagem foi inventado, criado, significando com isso que o autor ou autores buscaram um elemento primordial da literatura, que é a originalidade. No entanto, tão importante quanto a originalidade, é o fato que a estrutura do conto nos remete à forma de revelação comum ao mito. O que é o mito senão a explicação de como alguma coisa surgiu, ganhou vida, começou a ser, a existir? Em vez de coisa, claro, poderia ser alguém. E não é preciso procurar os mitos clássicos; bons exemplos estão aqui pertinho, nos mitos indígenas.
“O Rei dos Gatos” corresponde aos personagens que foram criados, mediante uma necessidade imperiosa: ajudar a manter a norma vigente, que a sociedade tem por correta. Neste conto, sua aparição ameaçadora se associa à presença-existência de crianças desobedientes. Poderíamos dizer: uma variação da Cuca para crianças maiores. A Cuca descia do telhado e vinha pegar as crianças bem pequenas que não queriam dormir. O que já não se inventou para o descanso das mães mal-dormidas!
A boa história sobre “A Casa Abandonada da Rua Dutra” concatena dois aspectos de real interesse. O primeiro é aquele, segundo o qual a pessoa temida ou malévola carrega esta característica da vida para o além. Às vezes, até piora sua natureza, pois, após a morte, ela se vê limitada em vários aspectos. E além deste ponto, há outro interessante. Muitas histórias louváveis, inclusive esta, deixam patente que a coragem vence até o sobrenatural. Neste conto, o monstro é vencido e morto por uma Mulher, que se enche de coragem ao ver a filha pequena aprisionada pela estúpida criatura.
“A Lenda das Três crianças da Floresta” segue um mote frequente nas histórias de monstros e assombrações. As aparições se repetem quase sempre num mesmo lugar, num mesmo cenário, e se prendem a um fato singularmente brutal, ali ocorrido no passado. São muito comuns em todo o país, as águas santas, fontes sagradas, menina santa etc., designando os lugares onde uma criança teria sido sacrificada de modo brutal por algum maníaco.
Com o passar do tempo, felizmente, estes lugares malditos pelo acontecimento tenebroso acabam ganhando uma aura diversa em que a imagem da criança se associa a fenômenos de elevação espiritual e até milagres.

Luiz Galdino/ SP.24.11.2011

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