Isabella e Suehllen - Profª. Genoveva - E. E. Guido Marlière
Outro dia meu pai me esperou acordar para dizer que havia sonhado que minha hora de sair em busca do meu Animal de Poder havia chegado.
Não sabia se ficava alegre ou triste. É que quando este sonho aparece é como se um sinal fosse dado para dizer que eu já era quase um homem feito, um adulto.
Vi que meu pai estava contente, mas um pouco preocupado. Ele sabia dos riscos que isso trazia. O Animal de Poder é o ser ancestral que nos protege. Cada pessoa tem um, mas ele só se mostra quando a gente está preparado para encontrá-lo e isso me trazia a necessidade de ir ao seu encontro dentro da mata.
- Você sabe dos riscos, não é? – perguntou meu pai naquele dia.
- Você me ensinou a não ter medo, pai. Você me preparou para esta hora.
- Sua mãe está aflita. Não para de chorar.
- Sei disso também. As mães sempre choram quando os filhos crescem, não é mesmo?
Meu pai sorriu e me abraçou carinhosamente. Fez o gesto para esconder duas lágrimas que lhe caíam no rosto e que não queria que eu as visse. Depois disso deu-me um cesto com algumas frutas e disse para eu partir. Passei por minha mãe que veio ao meu encontro e também me abraçou me encharcando o rosto com suas lágrimas. Resisti àquela emoção toda sem demonstrar que meu coração estava chorando também. Como quase um homem que eu era, a afastei gentilmente e me pus a caminho.
Na primeira parte daquele dia não encontrei nem sinal do meu Animal e também nada de novidade. Era um caminho que eu já conhecia de tantas vezes ter por ele passado. Na parte da tarde, no entanto, pressenti um frio percorrendo meu corpo. Algo estava por acontecer. Quis procurar um lugar para me esconder, mas já era tarde demais. Quando notei já estava diante de uma enorme boca que ameaçava me engolir. O susto foi tanto que caí para trás e bati a cabeça na raiz de uma árvore. Na mesma hora desfaleci.
Quando acordei já não estava mais no mesmo lugar. Fiquei apavorado ao notar a existência de ossos ali perto de uma enorme fogueira. Por um minuto , enquanto tentava me recuperar, fiquei me perguntando: onde será que estava? Quem me havia trazido para aquele lugar? O que teria acontecido enquanto eu dormia?
Daniel Munduruku
Nenhum comentário:
Postar um comentário