Leio quase que semanalmente o Jornal Virtual da Revista “Profissão Mestre” que em muito me auxilia nas atividades junto às professoras e alunos que participam dos projetos do Instituto Francisca de Souza Peixoto. Há uns meses recebi o texto de César Augusto Dionísio, economista e professor, que acredito trará grandes reflexões para pais, professores e interessados em leitura e escrita que visitam este blog.
Aproveitem!!
Aproveitem!!
Prof. Andréa
“Muito se reclama sobre a falta de leitores no Brasil. Muito se reclama sobre a ausência dos pais no trato de questões educacionais envolvendo seus filhos. A leitura, certamente, é uma delas. O que esquecemos de observar, muitas vezes, até mesmo como pesquisadores da educação, é o papel decisivo da família na formação de leitores. Leitores não surgem. Leitores são criados.
A música clássica padece do mesmo mal. Que mal! Muito triste. Como pode um ser vivo morrer sem ouvir algo de Mozart, Beethoven, Wagner, sem se emocionar com um coral bem regido e afinado? Mas a música clássica, a passos lentos, vem mudando essa composição. Como? Formam ouvintes, formando platéias. E olhem que nem é preciso ‘educar’ o ouvido. Mozart já se ocupou disso. Mozart passa a ser mais que um compositor, um educador. Ele sabia que para conquistar sua platéia, deveria seduzi-la. Assim o fez.
Quantos livros você já deu a seu filho? Qual idade tinha seu filho quando você deu a ele seu primeiro livro? Quantos livros você já recomendou a seu filho adolescente? Quantos livros você já leu na frente deles?
E observem que o ato de ler é plural. Desconhecemos que existem gêneros e mais gêneros de leitura. Nem são gêneros literários. Literatura é apenas um dos gêneros possíveis e passíveis de leitura. E dentro da própria literatura, quantos gêneros existem? É o que percebemos através do hábito bem-vindo de se ouvir música, de qualquer espécie. Existem variados gêneros, mas sempre há um a nos contentar mais intimamente. Mas só podemos apreciar aquilo que passamos a conhecer. Que gosto tem uma comida que nunca provamos e da qual só ouvimos falar? Que gosto tem um livro que eu desconheço? Que livro tem o gosto que eu gosto? Tem gente lendo pouco demais. Nem placa de trânsito se interessa a ler. Tem gente lendo demais. Lê tanto, que nem mesmo a bula do remédio do vizinho escapa.
Mas, acima de tudo, trata-se de um hábito formado. Formado e formador. Hábito, este, que precisa ser introduzido em nosso cotidiano por alguém. A melhor opção: nossos pais.
Sabe aquele jantar em família que raramente acontece? Pois este é um indicador de que os estranhos que habitam a mesma casa não mais se tocam. Não mais se tangenciam e acabam influenciando, cada vez menos, o comportamento alheio. Se nem pai e mãe são conhecidos, como posso conhecer William Shakespeare? Como posso me conhecer?
Insisto: quantos livros você já leu na frente do seu filho e filha? Pessoal, o círculo é vicioso: se a mãe não lê, a filha dificilmente lerá; se o pai não lê, o filho não enxergará no ato da leitura uma prática digna de ser reproduzida. Enquanto estamos lendo, não estamos fazendo mal a ninguém. A quem quer que seja. É isso o que as famílias poderiam propor aos seus filhos. Menos computador e mais leitura.
Leitura no computador? Combinação possível, mas perigosa. Perguntará o pai à mãe da criança: ‘Onde está nosso filho?’ A mãe pacientemente responde: ‘Está lá em cima no quarto dele, lendo.’ Os dois, pai e mãe, continuariam, então, suas atividades, certos de que ensinaram direitinho como é que se transforma a leitura em assunto de família; não em ‘segredo’ de família.
Toda família deveria ter uma biblioteca básica. Toda família deveria ser basicamente uma livraria. As lembranças de minha infância são povoadas de momentos entre meu pai, eu e seus livros.
Minha mãe lê ainda mais que eu. Ela detém mais informação que eu. Preciso ler mais. Mais e mais. É disso que me refiro aqui: minha mãe ainda me ensina que ler é bom e é preciso; e mais, ela escolhe a melhor forma para me ensinar que a leitura é necessária – ela me ensina pelo exemplo. De que valeria se ela me dissesse que devo ler mais e mais, se ela não fizesse o mesmo? Exemplo de família é mais que exemplo. Exemplo para a vida toda.
Alunos lendo mais na escola e filhos lendo mais em casa. Acredito piamente que a solução para os problemas da escola está na família e que a solução para os problemas da família estão também na escola. Mas tem pai e mãe que não anda fazendo a lição de casa.”
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